Nunca foi tão fácil ser mulher no ocidente e consequentemente
no Brasil. Afirmo categoricamente isto porque as pesquisas estão aí pra nos
provar. Segundo dados brasileiros fornecidos pelo IBGE no documento chamado
Síntese dos Indicadores Sociais de 2013, a população brasileira é composta por
51,3% de mulheres que estão casando-se cada vez menos, tendo cada vez menos
filhos e estudando e trabalhando formalmente cada vez mais.
O que não quer dizer que ainda não há muito a se fazer. Há
sim. E tem sido feito, todos os dias, por corajosas mulheres que dão a cara
para bater para que as portas se abram para todas nós passarmos. Enquanto
mulheres ocupam cargos nunca antes imaginados, como o da Presidência da
República, outras tantas continuam sofrendo violências física e psicológica até
dentro de suas próprias casas. E essas mulheres, encorajadas pela rede de
suporte e valorização que está sendo desenvolvida pela sociedade e poder
público, têm podido se libertar e dizer “não” a situações excludentes e
criminosas.
Uma maior liberdade para fazer escolhas e a conseqüente
afirmação como trabalhadoras formais (o que as tornam mais independentes
financeiramente) tem influenciado diretamente nos novos arranjos familiares que
estão sendo experimentados no país. Por isto, atualmente 38% dos lares tem como
“pessoa de referência”1 uma mulher, que geralmente é a principal
fonte de recursos ou a principal tomadora de decisões do lar. Este número
cresceu 10% de 2002 até 2012.
Portanto, a mulher brasileira se equilibra entre as lutas
diárias contra o preconceito e as oportunidades de brilhar e de se tornar
independente. E esse é o primeiro super poder dela: se equilibrar. As mulheres
bateram no peito, queimaram seus sutiãs e foram à luta em busca de igualdade,
mas não deixam e não podem deixar de lado os papéis sociais que foram confiados
a elas desde sempre. Então o jeito é ir ganhando espaços até onde os braços
alcançam e dão conta de segurar.
Outro super poder que deriva desse equilíbrio é a capacidade
de realizar multitarefas. A mulher é mãe, dona de casa, funcionária, amiga,
esposa, namorada, filha e consegue separar melhor essas relações de modo a ir
desempenhando os papéis sem que um interfira totalmente no outro. Dá pra
atender ao telefone, dar banho nos filhos, redigir um relatório, cuidar do
jantar e lixar as unhas ao mesmo tempo com uma simplicidade enlouquecedora aos
olhos dos homens. Dá pra surtar também, mas logo passa. A Supermulher não tem
tempo pra se lamentar. Essa capacidade alçou a mulher a uma condição
privilegiada no mercado de trabalho e a coloca em vantagem para exercer
atividades que necessitam de visão macro e holística do negócio.
Porém, muitas dos percalços ainda são frutos de uma herança
machista que ta longe de desaparecer. Ainda em 2012, os homens tinham uma
jornada média semanal de 10 horas dedicadas a afazeres domésticos, enquanto as
mulheres se dedicavam, no mesmo período, ao dobro do tempo (cerca de 20,8
horas), mesmo trabalhando também fora de casa. Isso tem mudado. Elas têm
exigido mudanças e os homens têm respondido a essa demanda. Mas a condição
ideal de divisão ainda é para poucas, pouquíssimas delas.
Também tem sempre aquela Kryptonita2 que insiste
em provocar certo desânimo como uma pia de pratos que, no instante em que damos
as costas, volta a encher na velocidade da luz (o mesmo acontece com o cesto de
roupas sujas), tem também uma ou outra porta que se fecha no nosso nariz por
uma “simples questão de gênero”, uma febre de filho, uma calça jeans apertando,
uma saudade de pequenos prazeres roubados pela rotina, uma conta atrasada, uma
dieta que não sai do projeto etc.
E a Supermulher infelizmente tem o “contra poder” de querer
ser perfeita, de se sentir culpada, do “e se eu fizesse diferente”. Por que a
cobrança sobre elas é ainda maior. A mulher precisa provar várias vezes ao dia
o merecimento de cada conquista. Então elas são cobradas em aspectos físicos,
sociais, intelectuais, de competência e um sério agravante: de estética. É absurdo
os padrões estéticos que são impostos a elas. É importante e urgente ser um
símbolo de perfeição. Todas têm de viver impecavelmente lindas, magras e
sensuais a todo o momento. E pasmem: a maior cobrança acontece entre as
próprias mulheres, por viverem comparando-se a ideais e padrões de beleza
surreais. Ai da mulher que hoje não esteja de unhas feitas, cabelos lisos,
pernas torneadas e com a tão falada barriga negativa. Tá tudo lá nas revistas,
na TV, na internet, como se fosse possível e fácil para todas.
Há também mulheres que viram a mesa e hoje podem dizer que
não vão seguir esse padrão e não se casam, não têm filhos, moram sozinhas,
pagam suas contas, assumem seus pneuzinhos, sua opção sexual diferente e vão
muito bem. Ou mulheres que se dedicam à carreira, que estudam, que batalham e
que se permitem mudar de ideia ao longo da vida. Isso porque elas decidem sobre
o que fazer com as próprias vidas. Hoje dá pra ter até nome de fruta, dá pra
viver do corpo, da beleza... Tudo bem que as queimadoras de sutiã não queriam
bem isso, mas todo mundo há de convir que é um passo grande no quesito
liberdade. Segue quem quer, gosta quem quer. Há quem prefira a inteligência. Há
quem prefira a força.
E as Super Mulheres, apesar de ainda passarem por dificuldades,
seguem suas vidas sem desanimar, afinal a Mulher Maravilha é feliz, acima de
tudo. Existem muitas mulheres magníficas que são admiráveis por sua obra e sua
história de vida e que poderíamos passar horas nomeando: mulheres comuns,
grandes e pequenas empresárias, mulheres famosas, precursoras, formadoras de
opinião, “quebradoras” de tabus e anônimas que encontramos ao longo da vida... Elas
merecem todo respeito que conquistaram dia a dia com suas posturas autênticas e
competentes, fruto de atitudes respeitáveis. Mulheres que abrem espaços por puro
mérito, sem levantar bandeiras repetitivas e vazias. Porque como diz a minha
mãe: Status não enche a barriga de ninguém, meu bem! Elas vão lá e fazem por
merecer. E não há Super Homem no mundo que não sucumba diante do poder que elas
representam.
1Termo
utilizado pelo IBGE para se referir ao “chefe de família”
2Mineral
criado nas histórias do Superman que tem o poder de neutralizar seus super
poderes.
Gabriela Andrade
Mulher, mãe, esposa,
profissional formal, dona de casa, blogueira e ainda consegue escrever pra
revista.
Comunicóloga,
habilitada em Relações Públicas pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Especialista em
Marketing e Branding pela Universidade Salvador – UNIFACS
Analista de Marketing
da Comercial São Luis
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